Por Fabiano Teixeira dos Santos
Arquiteto e Urbanista, Mestre em História e Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFSC.

Entre campos e bosques de araucária que se sucedem em meio ao relevo ondulado que caracteriza a região da Coxilha Rica, situada entre os municípios de Lages e Capão Alto, encontra-se preservado um expressivo conjunto de fazendas históricas.

Essas propriedades rurais materializam em seus casarões cercados por taipas e mangueiras de pedra o período de maior prosperidade da pecuária nos “Campos de Lages”, marcado pelas tropeadas de mulas e bois que abasteciam os mercados do litoral e do sudeste brasileiro. Também evocam as memórias de luso-brasileiros, africanos e imigrantes europeus que tomaram parte no processo de colonização do planalto serrano de Santa Catarina entre a segunda metade do século XVIII e o início do século XX.



Destacam-se igualmente os extensos caminhos de tropas, ou corredores, delimitados por muros de taipas de pedra que tinham a função de facilitar o transporte do gado. Essas antigas estradas acabaram proporcionando não apenas a circulação de animais entre as zonas de criação e os centros consumidores, como também foram vias estruturadoras da sociedade local e de sua cultura, caracterizada fortemente até os dias de hoje pela herança tropeira.



Passados mais de dois séculos, a pecuária ainda é uma das principais atividades econômicas praticadas nas fazendas históricas da Coxilha Rica, o que certamente tem favorecido a manutenção, além dos aspectos arquitetônicos, de inúmeras manifestações culturais associadas ao tropeirismo, como o linguajar, a gastronomia, a produção do queijo artesanal serrano, as lendas e causos que inspiram a música regional, e o ofício de taipeiro (construtor de taipas de pedra).


A junção desses e de outros atributos numa paisagem natural de grande beleza tornam a Coxilha Rica um lugar único, detentor de um patrimônio cultural singular que têm atraído nos últimos anos os olhares de fotógrafos, cineastas, pesquisadores e instituições de diversas áreas.



O setor turístico, igualmente, olha com atenção cada vez maior para o potencial da região, notando-se um aumento de estabelecimentos receptivos e de hospedagem, acompanhado da crescente oferta de pacotes e roteiros de visitação em diversas modalidades.



Se desenvolvido de forma planejada, consciente e responsável em termos sociais e ambientais, o Turismo possibilitará a exploração sustentável da Coxilha Rica, podendo inclusive se associar à pecuária ou a práticas agrícolas como a vitivinicultura (enoturismo), sabidamente com grande possibilidade de crescimento na região. Em contraponto a atividades ambientalmente impactantes, como a silvicultura, o plantio de soja e a construção de hidrelétricas, o Turismo mostra-se como uma alternativa econômica de peso que poderá viabilizar a preservação da Coxilha Rica e seu rico patrimônio cultural.

Crédito Fotos: MSM Imagens Aéreas, Acervo Fazenda Lua Cheia, Herison Henrique e Arquivo Revista Excelência.