Antonio de Pádua, presidente do Pouserra, Associação do Trade Turístico de Urubici e Bom Retiro, fala sobre os novos rumos do turismo em Urubuici e região.

Há 19 anos a  Pouserra, trabalha em prol do turismo do município de Urubici e região. Mesmo diante da pandemia do COVID-19, as ações programadas pelo grupo, não pararam. Antônio de Pádua, presidente da associação, relata como está o andamento dos trabalhos junto a outras associações, entidades, poder público e comunidade.

Inverno Serra Catarinense – Foto Marcus Zilli

RE: Fale da importância do Pouserra para Urubici e região?

Antônio: A Pouserra tem o objetivo de fomentar o desenvolvimento do turismo de forma sustentável na Serra Catarinense. Quando falamos em sustentabilidade não estamos nos limitando exclusivamente as ações ecologicamente corretas e economicamente viáveis. Incluímos as ações socialmente justas e culturalmente diversas, pois desta forma integramos a população nativa neste processo. Não adianta implementar ações apenas para os turistas, consideramos muito importante que a população nativa das cidades da Serra Catarinense façam parte deste processo e se desenvolvam juntos. Processo importantíssimo dentro desse conceito de sustentabilidade.

A Pouserra conseguiu alcançar uma representatividade e solidez muito grande, nesses 19 anos em prol do trade turístico. Ela é voz ativa que influencia outros atores do trade turístico que possuem o poder da tomada de decisão. Trabalhamos de forma pró ativa, por exemplo no apoio e execução de eventos, para alavancar o turismo na baixa temporada. O Festival Nacional da Truta é um dos eventos totalmente formulado e desenvolvido pela Pouserra.

RE: Neste período de pandemia do COVID-19, vocês estão realizando alguma ação diferenciada?

Antônio: Algumas ações acabaram sendo adiadas por conta das restrições. Os eventos, por exemplo, que estávamos falando, estão proibidos. Então, estamos aproveitando este momento para tentar evoluir em outras ações muito importantes. Em novembro do ano passado apoiamos o XXXVI encontro anual dos Jornalistas de Turismo, evento este realizado no interior pela primeira vez graças aos atrativos de nossa linda e hospitaleira Urubici. Antes era um evento exclusivo das capitais.

Naquela época conseguimos assinar a carta de Urubici, com assinaturas inclusive, de representantes oficiais do Ministério do Turismo. Neste momento – de pandemia – continuamos reivindicando ações importantíssima para nossa região compromissadas na supracitada “carta”, juntamente com o CONSERRA e a AMURES, além de outras associações, para a conclusão de obras de infraestrutura. Por exemplo, a BR 438, que o pessoal chama de Caminho das Neves, que liga São Joaquim a Bom Jesus, que era estadual e virou federal.

Desta forma, conseguimos desenvolver ações além das fronteiras do município de Urubici. Estamos falando de integração regional, imagine isso, a Serra Gaúcha ligada a Serra Catarinense, pense no retorno.

É muito importante conseguirmos junto as autoridades competentes, apoio para conclusão dessas obras. Estamos aproveitando esse tempo da pandemia, dentro dos escritórios para cobrar os compromissos feitos pelas autoridades. Incluindo também a SC 370 entre Urubici e Grão-Pará, na Serra do Corvo Branco.

RE: Essas obras terão impacto também nos eventos, que falamos anteriormente?

Antônio: Sim. Teremos um evento de ciclismo reconhecido mundialmente, que foi adiado para março de 2021, e para que ele ocorra precisamos da conclusão da SC 370. Para isso trabalhamos em conjunto com outras associações e o poder público.

RE: Já existe uma programação junto à comunidade para o pós-pandemia?

Antônio: Tínhamos uma programação do ano todo, voltada para eventos. E ainda não temos com clareza quando esse processo vai se resolver. Teoricamente estamos adiando os eventos desse ano para o ano que vem. Esse pós-pandemia é muito relativo, pois não sabemos quando ele realmente vai acontecer.

Mas com muita fé, esperamos poder realizar um grande natal. Estamos planejando a ação com outras entidades e até a data, esperamos estar melhores no aspecto relacionado à pandemia. A cidade merece uma grande festa! Isso, é claro, se o cenário abrandar. Queremos brindar a vida, a saúde e nada melhor do que fazer uma comemoração em uma época de harmonia entre as pessoas. O natal de 2020 tem que ser de muita luz, e é isso que estamos planejando.

 

RE: Como a tecnologia tem auxiliado o turismo neste momento?

Antônio: O mundo mudou e ninguém tem dúvida disso. Agora a gente percebe, de forma mais nítida e contundente, uma fronteira quando falamos em TI. Teremos um antes do COVID e pós-COVID. Percebemos isso claramente para uma série de ações como reuniões, lives e treinamentos, tudo isso alavancou de forma muito significativa. No caso da Pouserra, estamos aproveitando esse tempo para participar de diversas lives de turismo. Tem muitos profissionais capacitados e não apenas dentro da fronteira da Serra. Como teoricamente o pessoal está em casa, é possível trazer para a conversa, um profissional de algum assunto específico, seja sobre uma cultura de vinho, sobre como o mercado do turismo vai se comportar pós-pandemia, seja até relacionado as dúvidas sobre questões trabalhistas.

São diversas entidades proporcionando treinamentos de forma gratuita e a tendência será cada vez mais nessa direção. Além disso, estamos implementando o novo site da Pouserra, o visiteurubici.org. muito mais alinhado as novas demandas de tecnologia.

RE: A busca dos turistas pelos atrativos de Urubici continua? Quais são as estratégias de divulgação que o Pouserra está planejando?

Antônio: A busca neste momento está sendo muito intensa, até surpreendente. Talvez seja pelo fato das pessoas terem ficado muito tempo em casa ou talvez pelo nosso destino ser muito atraente mesmo. Em relação a isto, uma informação relevante é que instituições de relevância mundial, como no caso da Oxford University, atestar que em áreas muito abertas, como é o caso de Urubici, com natureza e espaço ao ar livre, o contágio ter um efeito menor. Nessa linha, as pessoas estão procurando, sim, o destino e os atrativos daqui. A procura até se acentuou pois, independente da pandemia, estamos na alta temporada. A estratégia da Pouserra é divulgar de forma muito clara os protocolos de saúde, apesar de eles estarem determinados por decretos.

Estamos aproveitando as mídias sociais da Pouserra para esclarecer as dúvidas dos turistas e reforçar a questão da obediência aos protocolos de saúde, dando assim, visibilidade para as determinações. Não estão faltando demandas, o que é muito bom, mas precisamos que essas pessoas que estão nos procurando venham e cumpram o protocolo, para que não tenhamos contágio. Não temos casos em Urubici, então acreditamos que os locais vão continuar abertos e que daqui a pouco possa haver flexibilização. Nossa estratégia de dar transparência as determinações continua, sempre com muita responsabilidade, para que isso aconteça.

 

RE: Em Urubici, a cultura do turismo de experiência vinha tendo cada vez mais espaço, assim como em outras cidades. Devido a pandemia, ele ganhará uma nova forma?

Antônio: O turismo de experiência vem sendo exercido de forma abrangente em todos os cenários.

A experiência é importantíssima, todos os estudos de marketing mostram que ela marca o visitante. A experiência marcante faz com que o turista propague-a para outras pessoas ou faz com que ele volte para reviver. Neste quesito não tem muito o que a gente mudar, pelo contrário, temos que incentivar cada vez mais. Temos exemplos aqui, do balanço infinito no Cânion do Espraiado, do passeio de balão por Urubici, de um belo pôr do sol no Morro do Campestre ou de um banho de cachoeira no Rio Sete Quedas. Essas experiência marcam!
Não temos uma nova forma, iremos apenas continuar fomentando o turismo de experiência que está em uma crescente com excelentes resultados.

RE: Qual setor turístico foi mais afetado durante o período de isolamento social? E como os estabelecimentos estão retornando aos trabalhos?

Antônio: Eu vejo o setor como um todo muito prejudicado. É claro, que alguns sentiram mais, como no caso dos guias, que em grande parte, continuam parados. Mas temos também os restaurantes, hospedagens afetados de forma direta. Além disso, os serviços afetados de forma indireta, pois está todo mundo limitado a 50%. Então, estamos diante de uma alta temporada, que poderíamos estar vendendo 100% e estamos vendendo metade. É um prejuízo muito grande que vamos demorar para recuperar. Mas é claro que entendemos e respeitamos essas determinações, já que elas são feitas pelas pessoas competentes.

Outro fator que está prejudicando o setor é o fato de não conseguirmos acessar as linhas de crédito, pois as dificuldades são muito grandes. São muitos pré-requisitos. Grande parte das linhas de créditos demoram a chegar no interior, elas ficam mais restritas as capitais e metrópoles e as vezes não estão voltados aos micros empreendedores. Todo o setor está sendo afetado pelas restrições e como em Urubici ainda há a restrição ao crédito subsidiado, tal cenário prejudica a todo o empresariado.